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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Crítica do Filme Kick Ass Quebrando Tudo



Realizado por Matthew Vaughn 
Com Nicolas Cage, Mark Strong, Chloe Moretz, Aaron Johnson 

O surpreendente e revitalizante “Kick-Ass” é indiscutivelmente uma das maiores surpresas qualitativas do primeiro semestre desta temporada cinematográfica. “Kick-Ass” é uma excelente aventura heróica que conseguiu revitalizar uma conhecida temática que tem sido exaustivamente explorada por inúmeros estúdios americanos, no entanto, essa exploração nem sempre é executada por cineastas competentes e guionistas imaginativos, assim sendo, somos constantemente confrontados com inúmeras produções que são visualmente estonteantes e apelativas mas que infelizmente não nos conseguem convencer com os seus repetitivos argumentos que exploram com superficialidade e sem criatividade as típicas histórias dos super-heróis e os seus magnânimes combates contra os super-vilões. “Kick-Ass” é protagonizado por Dave Lizewski (Aaron Johnson), um verdadeiro fanático pelas histórias fictícias que são protagonizadas por imaginativos super-heróis, que decide combater a monotonia do seu enfadonho e repetitivo quotidiano com um ambicioso e criativo projecto que irá alterar radicalmente a sua existência.
O astuto adolescente decide combater as actividades criminosas que proliferam na sua instável metrópole como um verdadeiro super-herói, assim sendo, inventa uma cativante identidade secreta, encomenda uma farda apropriada e começa a perseguir os violentos criminosos. O jovem passa rapidamente de um simples adolescente que nunca deu nas vistas para uma verdadeira celebridade que é idolatrada por inúmeros adolescentes. A sua atitude é seguida por outros indivíduos e a metrópole que jurou proteger é subitamente invadida por outros super-heróis que partilham a sua ambição e o seu desejo, no entanto, nem tudo poderia ser perfeito porque à margem da epidemia de super-heróis também surge um super-vilão, Frank D'Amico (Mark Strong), um perigoso e impiedoso mafioso. Dave ou Kick-Ass sabe que não conseguirá derrotar este vilão sozinho, assim sendo, forma uma heróica aliança com Big Daddy (Nicolas Cage) e Hit-Girl (Chloe Moretz), dois indivíduos igualmente fanáticos e destemidos que o ajudaram a derrotar o grande vilão e a sua equipa de bandidos. 


Os últimos grandes trabalhos cinematográficos deste conhecido género foram claramente “Spider-Man”, “Iron Man” e “The Dark Knight”, três magníficas produções que conseguiram oferecer ao espectador um argumento intelectualmente cativante que é engenhosamente acompanhado por uma vertente visual/gráfica extremamente competente, ou seja, os seus criadores não se conformaram com os típicos estereótipos narrativos deste género e conseguiram oferecer ao espectador um produto que os surpreende e que os consegue entreter sem grandes dificuldades. “Kick-Ass” não é tão competente ou tão atractivo como estes magnânimes sucessos comerciais e qualitativos, no entanto, consegue superar facilmente inúmeros trabalhos semelhantes, como por exemplo, “Superman Returns”, “Daredevil”, “Ghost Wrider”, “Hulk”, “Elektra”, “The Punisher” ou “The Fantastic Four”. O seu competente argumento é inspirado numa homónima banda desenhada que é relativamente conhecida nos Estados Unidos da América mas que não é tão conceituada como aquelas que originaram alguns dos maiores sucessos comerciais dos últimos tempos. O grande objectivo de “Kick-Ass” é entreter o espectador, um propósito que é amplamente cumprido através de uma interessante e violenta narrativa que nos apresenta uma engenhosa análise subversiva sobre um universo fictício que é extremamente abundante em estereótipos comerciais e superficiais. Os super-heróis em “Kick-Ass” são simples humanos sem magníficos poderes sobrenaturais e sem grandes engenhos tecnológicos que não são movidos por grandes motivações altruístas, assim sendo, estamos perante simples indivíduos sem grandes características heróicas que enveredam livremente por uma profissão/passatempo invulgar, ou seja, não estamos perante os típicos super-heróis que combatem as injustiças e os criminosos porque é para isso que estão tacitamente planeados. A eliminação dos elementos sobrenaturais consegue oferece um escasso realismo à história, realismo esse que é completamente obliterado pelas suas exageradas sequências violentas que são protagonizadas por variadíssimas intervenientes. O argumento é maioritariamente composto por sequências de acção e de aventura mas também é abrilhantado por alguns momentos de comédia que são escassos mas deliciosos. As vertentes dramáticas e românticas também estão presentes mas em doses muito pequenas, no entanto, conseguem servir um interessante propósito e a principal sequencia dramática consegue mesmo oferecer alguma capacidade emocional a uma das personagens mais sangrentas da história. 


A construção das personagens é extremamente imaginativa. O protagonista, Kick-Ass, é um típico adolescente americano sem grandes aptidões físicas que subitamente se transforma num herói local, um exemplo para os seus companheiros e para os seus seguidores porque conseguiu combater algumas injustiças e alguns criminosos sem utilizar grandes meios, no entanto, este seu reconhecimento não foi obtido sem grande esforço porque as suas primeiras tentativas foram completamente desastrosas, tentativas essas que conseguiram reforçar a sua humanidade e a sua inexperiência. Ao contrário de Kick-Ass, Big Daddy e Hit-Girl são heróis com um propósito mais serio e mais perigoso que o reconhecimento mediático porque são heróis vingadores, ou seja, procuram alcançar uma cruel vingança de um impiedoso mafioso que acaba por assumir o estatuto de principal vilão da história. Big Daddy e Hit-Girl são fisicamente poderosos e psicologicamente insensíveis porque não apresentam qualquer empatia por qualquer inimigo que lhes apareça à frente. Hit-Girl é uma pequena assassina que não apresenta qualquer remorso pelos seus inúmeros homicídios que nos são apresentados ao longo da história. A vertente maléfica de “Kick-Ass” é encabeçada por Frank D'Amico, um cruel mafioso que encabeça uma organização criminosa e que nos apresenta todas as características essências que um vilão fictício normalmente oferece ao espectador. Frank D'Amico tem o apoio incondicional do seu filho, Chris D’Amico ou Red Mist, uma espécie de rival eterno ou némesis de Kick-Ass. 


As sequências violentas são abundantes em “Kick-Ass” e são maioritariamente protagonizadas por Hit-Girl, uma excelente personagem que se assume como a maior surpresa desta produção. Hit-Girl de “Kick-Ass” faz Gogo Yubari de "Kill Bill" parecer uma simples adolescente porque é muito mais violenta e muito mais perigosa que essa psicopata juvenil. A facilidade e a frieza com que elimina um criminoso é simplesmente sublime mas irrealista, no entanto, “Kick-Ass” nunca pretendeu ser um exemplo de realismo mas sim um exemplo de entretenimento. As artes marciais preenchem a esmagadora maioria das sequências de combate, no entanto, também temos o privilégio de presenciar alguns tiroteios que tal como os combates físicos são muito bem coordenados e organizados. A violência gráfica e executada com uma extraordinária simplicidade, no entanto, esta vertente violenta e sangrenta poderá causar algum incómodo aos espectadores mais sensíveis. A vertente sonora desta produção também é extremamente competente e engenhosa. O elenco de “Kick-Ass” também é soberbo porque não existe nenhum profissional que nos apresente uma performance medíocre. A sua estrela é claramente Chloe Moretz, uma competente e talentosa actriz que interpreta com grande qualidade a surpreendente Hit-Girl, uma pequena heroína que coloca qualquer outra personagem em segundo plano e que consegue contrariar qualquer estereotipo genérico porque é uma personagem feminina e relativamente franzina que é equipada com uma postura extremamente violenta e sangrenta que consegue superar qualquer personagem masculina em combate. Aaron Johnson está muito bem como Kick-Ass. Nicholas Cage também conseguiu arrancar uma competente performance. Matthew Vaughn conseguiu transformar “Kick-Ass” numa excelente produção que certamente irá agradar à esmagadora maioria dos apreciadores das histórias de super-heróis porque lhes irá apresentar uma faceta mais humana e mais realista destes ícones populares. “Kick-Ass” é sem duvida uma produção imperdível que merece ser apreciada por qualquer espectador que não se impressione facilmente com grandes doses de violência gratuita. A sua conclusão deixa em aberto uma possível continuação que certamente irá ser anunciada em breve. 


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